16 Março 2022
O primeiro papa das Américas e o primeiro jesuíta iniciou o seu décimo ano como bispo de Roma.
A reportagem é de Loup Besmond de Sennevillle, publicada por La Croix, 14-03-2022. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Embora muitos imaginassem que seu pontificado fosse curto, o Papa Francisco começou agora o décimo ano do seu pontificado.
O ex-arcebispo de Buenos Aires iniciou a marca no último domingo.
Nove anos depois de ele se tornar o primeiro jesuíta a ser eleito para o papado, muitos em Roma dizem que o pontificado de Jorge Mario Bergoglio está claramente na segunda metade.
E esses insistem que os temas favoritos do papa, bem conhecidos por todos, estão no topo das prioridades desse estágio do pontificado.
A atenção aos migrantes e refugiados, por exemplo, continua a ocupar um lugar central nos discursos do papa.
Assim como questões como a “ecologia integral”, as “periferias” do mundo – sejam elas geográficas ou existenciais – e a “cultura do descarte”.
Os assessores mais próximos de Francisco dizem que, apesar de seus 85 anos, o papa manteve um ritmo de trabalho muito alto, desiludindo aqueles que gostariam de ver seu pontificado se esvair lentamente.
As questões que ele abordou na Evangelii Gaudium (a Alegria do Evangelho), o texto programático que publicou em setembro de 2013, também dão uma ideia bastante precisa das prioridades atuais de Francisco.
Nesta exortação apostólica, o papa recém-eleito descreveu, entre outras coisas, a necessidade de afastar a Igreja da “centralização excessiva” e de centralizar o anúncio do Evangelho nos “pobres e doentes”.
“Esta exortação é de fato o programa para o sínodo em andamento”, disse uma fonte romana.
O processo sinodal foi lançado em outubro de 2021 e deve durar dois anos. Pretende repensar como a Igreja Católica anuncia a sua mensagem num mundo que mudou consideravelmente, por uma vasta consulta a todos os fiéis do mundo.
O papa espera que esse método mude profundamente a maneira como os católicos percebem o mundo e, como resultado, levem o Evangelho a ele com mais eficácia e alegria.
É um método que ele espera que continue muito além da próxima assembleia do Sínodo dos Bispos, prevista para outubro de 2023 em Roma.
Pelo menos essa é a esperança que ele apresentou na Evangelii Gaudium:
“A pastoral em chave missionária exige o abandono deste cômodo critério pastoral: ‘fez-se sempre assim’”, disse o Papa naquele notável texto (EG, 33).
Outro trabalho em andamento – que não é alheio a uma nova maneira de trabalhar na Igreja – é a reforma da Cúria Romana.
Esta é uma necessidade exigida pelos próprios cardeais em 2013 durante as congregações gerais, as reuniões que antecedem o conclave em que cardeais de todo o mundo discutem o estado da Igreja e traçam um perfil do futuro papa.
Neste ponto, Francisco vem reformando o funcionamento de seus serviços há anos, notadamente através da emissão de vários decretos “motu proprio” (ou seja, por sua própria iniciativa).
O mais recente deles estabeleceu novas regras organizacionais para a Congregação para a Doutrina da Fé.
Mas além desses numerosos textos normativos, o papa ainda tem que publicar a constituição apostólica, Praedicate Evangelium, que deve definir a nova organização da Cúria Romana, a burocracia central da Igreja.
A publicação da constituição foi anunciada várias vezes como iminente e ainda é aguardada ansiosamente no Vaticano.
Mas é fora de Roma que Francisco pretende permanecer ativo, como evidencia o recente anúncio de uma visita apostólica no início de julho à República Democrática do Congo (RDC) e ao Sudão do Sul.
O Sudão do Sul está dilacerado pela guerra civil. O papa acompanhou de perto a situação e prometeu há muito tempo que visitaria o país se houvesse progresso nas negociações entre os dois lados.
Mas não houve progresso significativo desde a implementação em 2020 de um acordo de paz, que foi prejudicado por vários incidentes.
“Ele sente que o fim de seu pontificado se aproxima e decidiu fazer as viagens que lhe parecem prioritárias”, disse uma fonte do Vaticano.
Espera-se que Francisco viaje ao Canadá no outono e a Secretaria de Estado está atualmente trabalhando para tornar possível uma viagem ao Líbano.
“Ele não quer parar”, disseram assessores do papa. “Ele não quer ficar preso em Roma”.
A eclosão da guerra na Ucrânia em 28 de fevereiro também nos lembrou outra das prioridades de Francisco, cuja implementação está agora em dificuldades: o ecumenismo, em particular com o mundo ortodoxo.
Seis anos após o encontro histórico em Cuba com o Patriarca Kirill de Moscou, o papa tinha grandes esperanças de encontrar novamente o chefe da Igreja Ortodoxa Russa neste verão.
Uma data foi marcada para junho e, até poucos dias atrás, Roma e Moscou procuravam um local para realizar o encontro.
Mas essa é uma perspectiva que agora parece mais distante do que nunca.
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O dinâmico pontificado de Francisco: o que permanece na agenda - Instituto Humanitas Unisinos - IHU